Metade

Nasceste em costume da viuvez. Dos desapegos, das vontades livres e do trânsito desimpedido. 

Teu relógio não tem ponteiros. Teu despertar é o avesso da cidade. O revés dos movimentos paulistanos. O anti-piracema.

Não fazes força para viver o não-amor. Ele é a tua antessala. És simples, és fácil. És de pouca coisa. Quase nada. Em tua maior gaveta está o não-sentimento. Um profundo ele. 

És beleza demais para tudo que fazes. És um encanto lógico cheio de aspirações. Lindas. Lindas aspirações, todas elas.

Eu me perco nelas.

Tão bicho do mato, eu me afugento como um córrego, me assusto como uma seriema. E, no meio de toda a tua ligeireza (dessas que vai e volta sem que se possa piscar os olhos) eu bato minhas asas curtas. Assim como num tropeço. Numa ida indecisa. Num estender de braços a qualquer coisa de amor. 

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