Um feliz aniversário

O melhor de escrever poesias é não ser um poeta.

É saber que nunca serão lidas.

Assim elas se tornam eternas.

Eternas como o esquecimento, como o não-saber;

como a solidão de um verbarrão anônimo.

E então pode-se deixar pedacinhos de sentimentos, migalhas de sensações, arranjos de palavras, misturas.

Tudo aquilo que não faz o menor sentido,

e que por isso nunca será lido e nem cairá na cilada das interpretações viciadas com outros pedacinhos de histórias.

Ao não serem lidas, são virgens, são livres são leves como o ar, são perdidas como o vento.

Eu queria ser assim, como uma poesia que nunca foi lida.

E que não soube nunca o que é o toque macio de mãos sôfregas revirando páginas.

Eu queria ser como uma poesia que não almeja nunca ser lida.

E que se eternize na sua imensidão universal.

E que desapareça súbito no seu vácuo eterno.

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